As relações comerciais nas empresas “B2B”

Existe (infelizmente ainda) um mito de supor as relações entre empresas ( B2B ) como racionais, lógicas e objetivas, em que todas as decisões são justificadas por questões ligadas a preços; prazos e outros parâmetros mensuráveis. Se você (ainda) acredita nisso, este texto é para você.

Em nosso dia a dia também acreditamos que uma parte de nossas escolhas é racional, e para justificar isso, na maior parte das vezes damos repostas objetivas às razões que nos levaram a comprar uma coisa ou outra ou a optar por este ou aquele serviço.

Mesmo antes da crise pela qual nosso país passa, o fator preço sempre foi preponderante nessas justificativas, vindo em seguida, razões de conveniência e qualidade, entre outras.

Já vimos que nossas escolhas pessoais são muito mais impulsionadas por razões subjetivas do que costumamos verbalizar e essas razões nem sempre são conhecidas ou explicitadas para nós mesmos. Lá no fundo, temos algumas outras explicações, quase sempre dirigidas por emoções que nos guiam para um padrão de escolhas, na maior parte das vezes, escorado num bom argumento racional.

Qualquer pessoa que já tenha escolhido uma marca em função de sua imagem no mercado, sabe do que está sendo tratado aqui.

Bem, pensará você, mas no ambiente empresarial das relações B2B é diferente. Tomamos decisões baseadas em fatos e dados. Verdade, pelo menos em princípio. Não podemos esquecer que uma pessoa jurídica (rigorosamente qualquer uma delas) é composta de pessoas físicas, que como eu e você, têm medos, ansiedades, desejos, crenças e convicções, baseadas em seu conhecimento e experiência, e que colocam todo esse conjunto de vivências a serviço da empresa que o contrata. Desse modo, obviamente todas essas características de cada ser humano, serão transpassados ao ambiente empresarial.

Vejam o que procuram os especialistas em Recursos Humanos ao recrutar um talento: “queremos pessoas que sejam capazes de correr riscos, identificando novas possibilidades em que a maioria prefere recuar”, ou, a famigerada característica de “pensar fora da caixinha”. E por que será que se fala tanto nisso e se encontra tão pouco disso no dia a dia das organizações? Simplesmente porque somos (todos) seres humanos com instinto de autopreservação e que buscaremos segurança sempre que pudermos.

Essa autopreservação será apenas uma das características que se refletirá nas escolhas que os profissionais farão em sua rotina diária, juntamente com o aprendizado resultante de suas próprias experiências.

Mesmo nas competições mais renhidas em algumas áreas de compras que conheço, há alguns fatores que extrapolam o conjunto de requisitos objetivos de uma contratação e que influenciam, em maior ou menor grau, o resultado de concorrência ou negociação de fornecimento.

Entre eles devemos considerar:

  1. Empatia – a capacidade que um vendedor (não só o profissional de vendas, mas todo negociador em sentido amplo) deve ter de entender os problemas de seu prospects e ajudar a solucioná-los, nem sempre com a solução de melhor margem, mas com aquela que de fato for a melhor resposta ao problema apresentado. Desenvolver essa empatia na maior parte das vezes não é simples e pode levar um tempo até que se entenda de fato as “dores” de seu cliente.
  2. Confiança – essa sensação que temos de entregar nossa demanda a um fornecedor e dormir tranquilos sabendo que ela será tratada como se fosse a maior prioridade da empresa do fornecedor. Outro atributo que não é fácil de se construir, mas que será destruído numa fração de segundos, no momento em que aquilo que se espera não seja entregue, sem que haja uma razão muito coerente para isso. Aqui mais uma vez um atributo muito humano: o de compreender que empresas e pessoas às vezes falham, ainda que tenham feito tudo ao seu alcance para fazer o melhor.
  3. Autenticidade – aquela postura cada vez mais rara hoje em dia de colocar-se ao lado daquilo que você acredita que seja o mais correto, ainda que possa não ser exatamente aquilo que seu prospect queira ouvir. Isso vale para opiniões pessoais, mas sobretudo para as soluções, serviços, produtos e tudo o mais que você ofereça a ele. É por meio desse atributo que, com o passar do tempo, você consegue criar algo que será seu maior asset ao longo da sua vida profissional – sua reputação.
  4. Bom Humor – porque por mais que seu prospect reconheça em você um fornecedor apto a realizar negócios relevantes com a empresa dele, ninguém gosta de lidar com gente chata durante muito tempo.

Muito além do protocolar cafezinho das reuniões, a construção desses fatores na relação empresa – fornecedor, será o alicerce seguro para tornar as relações comerciais mais duradouras e proveitosas, de uma maneira que dificilmente será alcançada por um robô ou um “app” pelo menos nas próximas décadas.

“Novo consumidor” : tão novo quanto era meu avô quando ia às compras

Essa história de que existe um  “novo consumidor” está muito mal contada.

Isso para mim é invenção de marqueteiro.

Só vou acreditar que sim, existe um novo consumidor, na hora em que me mostrarem um consumidor, não importa se da geração y, x, z, da geração blá blá blá, (masoquista até a tampa), que queira ser mal atendido quando entra numa loja, que adore comprar alguma coisa  em sites mal cuidados, com processo de vendas confuso, preços fora da realidade, péssima política de trocas.

Enquanto esse “novo comprador” continuar se comportando igualzinho ao que se comportava meu avô quando ia às compras, querendo ser atendido como gente, para mim ele continuará sendo apenas isso – um consumidor, sem coisa alguma de novo.

OK, o mundo é outro, as formas de comunicação não são as mesmas, os costumes não são os mesmos, as motivações do cliente são diferentes, mas na essência nada mudou.

Quando me casei (isso faz tanto tempo!), meu primeiro apartamento era na Moacir Piza, uma ruazinha de apenas um quarteirão entre as alamedas Jaú e Itu. Logo depois da mudança o sr. Flávio, “vendeiro” da esquina bateu à minha porta para

dizer que estava às ordens, que tinha preços

muito bons e que poderia fazer entregas.

Antes, bem antes, meu pai tinha uma caderneta para comprar fiado na “venda” em que comprávamos. No fim do mês, quando ele pagava a conta, ganhava uma goiabada.

O que mudou de lá para cá?

Nada!

A venda da esquina da Jaú com a Bela Cintra, se ainda existissem vendas daquele jeito, (elas foram engolidas por um outro formato de comércio, talvez o sr. Flávio até seja dono de uma bela rede de supermercados) hoje mandaria uma mensagem eletrônica qualquer, diria o endereço de seu site, talvez oferecesse um cartão-fidelidade ou me convidasse para algum evento especial para clientes especiais.

A caderneta de fiado do meu pai continua existindo, é a fatura do cartão de crédito e a goiabada assumiu a forma de milhas para compra de passagens aéreas e uma infinidade de quinquilharias.

Então é isso: na essência, o consumidor não mudou.

Mudou o mundo, mudaram os meios de comunicação.

Percebo, no entanto, em minha atividade de consultoria de marketing, que há alguns mitos sobre os recursos de comunicação que devem ser postos em seu devido lugar.

Seria no mínimo tolice contestar o poder das mídias sociais; como é tolice achar que elas custam quase nada e operam milagres.

Sobre isso, peço emprestado ao especialista em comunicação on line Achilles Milan, por sinal muito competente, alguns conceitos que ele expõe num artigo que está no blog da Percepta – Uma dica: pense muitas vezes a respeito de tantas dicas sobre mídias sociais..

Ele diz:

“Você já deve estar cansado de ter visto, lido, ou ouvido recomendações com “Os 10 passos para se dar bem nas mídias sociais”, ou as “8 dicas para seu negócio crescer nas mídias sociais”. E eles, os passos e as dicas, talvez até estejam certos, em um modo geral.

Mas talvez não sirvam para o seu negócio.

Antes de entrar na aventura de posicionar sua marca nesse território selvagem, ou mesmo se já está nele, mas está achando que está tudo meio estranho, ou tem alguma coisa errada, faça essa pergunta:

Meu negócio precisa, realmente, estar nas mídias sociais?”

Ele não tem nada contra as mídias sociais, apenas está seguro de que na sua área há muita desperdício de dinheiro até por falta de conhecimento, tanto que em seguida fala de plataformas, melhores maneiras de interagir com o consumidor, e dá uma dica: “Pense muitas vezes a respeito de tantas dicas sobre mídias sociais”.

Leia o artigo.

E se achar que o Achilles e eu estamos errados, que, sim, existe um novo consumidor, que as mídias sociais são uma espécie de elixir milagreiro, não se vexe: discorde, exponha seu ponto de vista. Não há sintoma mais evidente de burrice do que negar-se a mudar de opinião. Eu mudo. Fácil, fácil. O Achilles também.